Uma das expressões da transformação digital é a proliferação de plataformas digitais de transações.
Plataforma, antes do digital, era um conceito antigo e simples: um lugar onde produtores e consumidores interagem, criando valor para ambos. Bons exemplos são as feiras-livres, shoppings e a bolsa de valores. O digital tem adicionado a possibilidade de uso de “espaços virtuais” para promover essas interações, removendo ou reduzindo dramaticamente restrições de escala e escopo.
![]() |
![]() Considerações sobre plataformas Pensamento Estratégico Interessado em entender melhor o que são plataformas e conhecer alguns bons exemplos de como elas tem revolucionado a competição? Nesse capítulo explico um pouco sobre as histórias e os impactos de plataformas de transações e de inovações, incluindo Apple, Uber, AirBnB e iFood. |
Plataformas tradicionais foram “transformadas” rapidamente com o digital. As bolsas de valores, agora, têm seus “pregões” on-line e boa parte das compras que eram feitas em shoppings centers físicos agora acontecem em market places como a Amazon, Alibaba e Farfetch. Plataformas físicas com instâncias menores, como pontos de taxi e cooperativas, foram consolidadas em espaços virtuais gigantes, com dinâmicas diferentes, mas com o mesmo propósito.
![]() |
![]() Modelando plataformas de transações Manual do Arquiteto Corporativo Interessado em entender melhor a estrutura de plataformas digitais de transações? Nesse capítulo apresento uma série de templates para modelagem e análise de plataformas sob a perspectiva da arquitetura corporativa. |
O êxito das plataformas inaugurou uma nova busca por oportunidades de inovação em modelos de negócios em áreas que, tradicionalmente, não operavam como plataformas. Trata-se do fenômeno do platform thinking.
Platform thinking
Uma maneira de pensar sobre mercados em termos de participantes que interagem para criar e consumir valor. Os consumidores não são apenas receptores de valor, mas produtores ativos ou participantes da criação de valor e, portanto, são um ou mais produtores. O valor é criado por meio da colaboração, engajamento e interação entre os participantes.
Uma nova era para a competição
![]() |
![]() Marc Andreessen |
Até pouco tempo a competição era entre pipelines – integrações verticais entre cadeias de valor considerando atividades como logística de entrada & saída, operações, marketing & vendas. Para essas empresas, a “digitalização” das atividades promovia ganhos de escala através da automação, padronização e integração do trabalho.
![]() |
![]() |
Em muitos segmentos, percebemos, agora, pipelines competindo com plataformas e sendo derrotadas por elas. O AirBnB (que é uma plataforma), por exemplo, chegou a valer mais do que as principais redes de hotéis do mundo (que são pipelines).
![]() |
![]() |
Já são marcantes, também, os embates entre plataformas. Por exemplo, Apple e Android rivalizam pela supremacia em dispositivos móveis. Uber, Lyft e tantas outras competem pelo controle das soluções de mobilidade urbana. Netflix, Disney+ e tantas outras competem pelo domínio no entretenimento.
Novas formas de suportar (crowdsourcing) e financiar (crowdfunding)
Platform thinking substitui a noção padrão de escassez, que tradicionalmente dava poder de barganha para fornecedores, pela ideia de abundância.
![]() |
![]() Bold: Oportunidades exponenciais Peter Diamandis é um dos expoentes do “pensamento abundante” como fonte de transformação. Nesse livro, o co-fundador da Singularity University, apresenta implicações reais de frentes como crowdsourcing e crowdfunding para os negócios. |
A Wikipedia, por exemplo, reconfigurou a ideia de “autoridade de conhecimento” de “poucos letrados” pela confirmação da maioria. O YouTube, de certa forma, fez o mesmo. Precisa de ajuda de um designer, redator, artista, programador? Seguramente, há uma plataforma disposta a conectar você com pessoas com especialidades raras.
Plataformas de financiamento proliferam conectando gente que precisa de dinheiro de uma massa disposta a conceder pequenos montantes (investimentos), desafiando empresas e meios tradicionais – como bancos. Isso, seguramente, implicará em negócios periféricos como a construção civil e seguros.
![]() |
![]() |
Novas formas de “confiar” e “consumir”
![]() |
![]() Jason Tranz |
A forma como produtos e serviços são consumidos está mudando radicalmente, devido a plataformas. O que até outro dia foi “esquisito”, agora está se convertendo em “novo normal”.
As plataformas estão, através de seus mecanismos de matching e curadoria, redefinindo relações de confiança.
![]() |
![]() |
A Wikipedia já teve problemas sérios de confiabilidade. Entretanto, parece que isso, hoje, faz coisa do passado – a curadoria, além de digital, agora é promovida pelas massas. O mesmo pode ser dito com relação ao Youtube.
Novos imperativos estruturais
Plataformas digitais de transações estão levando as organizações a revisitar algumas “certezas econômicas estruturais” do passado.
Para começar, era comum associar geração de valor a controle de ativos. Entretanto, obviamente, este não é mais o caso. Uber é uma gigante em mobilidade urbana sem utilizar carros próprios para funcionar. AirBnB é uma gigante em hotelaria sem possuir, sequer, uma cama própria sendo alugada.
Com a popularização da Internet, apostou-se na crescente desintermediação. Entretanto, esse movimento foi revertido. Hoje, a maioria das transações on-line acontece por intermédio de alguma plataforma.
Antes das plataformas, a “aposta certa” era no “foco e na desagregação”, agora, plataformas estão operando e agregando “adjacências”. Quer comprar uma passagem área? Então, também alugue um carro e reserve quartos de hotel (de forma semelhante a antigas agências, só que agora com intermediação de plataformas).
Para pensar…
Se a empresa onde você trabalha ainda não é parte do ecossistema mantido por uma plataforma, será em breve, ou deixará de “ser”. Se o software estava engolindo o mundo – segundo Marc Andreessen – em 2011, agora, com as plataformas digitais de transações, está mais voraz do que nunca.
Plataformas afetam organizações em seus modelos de negócios, mas, também em seus modelos operacionais. Financiamento, recursos e pessoas estão, estranhamente, migrando da escassez para a abundância – o “problema” pode persistir na estranheza do formato.
![]() |
![]() |